Textos de referência

Uma meditação para ocidentais – Parte 1

Autora: Maria Adela Palcos

A vida moderna, nas grandes cidades, deixa grande parte do ser humano de lado e sem possibilidades de desenvolvimento. A problemática psicológica atual é fruto, em parte, do fato de que uma quantidade de energia fica sem uso.

Talvez possamos diferenciar os tipos de energia em:

a) energias muito sutis; as quais não utilizamos porque não alcançamos determinados níveis de consciência, ou seja, não estão desenvolvidas em nós, e

b) energias vitais; que correspondem à força muscular, à possibilidade de deslocar-se, saltar, brincar, a todas as variantes fisico-anatômicas do ser humano, que tão pouco são utilizadas, a não ser em uma parte mínima.
Minha sensação é que o ser humano está vivendo em uma faixa intermediária: não faz uso dos sons graves, nem tão pouco dos agudos; nem dos altos, nem dos baixos; como se alcançasse somente tons intermediários. Isto, inclusive, reflete-se nos tons de voz. Em geral falamos com voz monocórdica, apesar da amplitude de sons que podemos alcançar.

A capacidade de usar esta amplitude distingue  o grande orador daquele que leva os ouvintes a dormir.

Falamos no mesmo tom de voz porque estamos no meio do caminho, em uma zona intermediária, na qual também não nos sentimos cômodos e sim carentes. Conforme a personalidade do indivíduo, ele sente-se preso, depressivo, melancólico, ou fora de si, com um excesso compulsivo de atividades que o mantêm em um estado de inconsciência, em um bem estar aparente; o tipo de pessoa que se desestrutura de uma vez e deprime-se ou fica gravemente doente.

Não é suficiente viver em um zona intermediária. Nós, seres humanos, temos muitas tonalidades e devemos utilizá-las. Ao não usarmos todo nosso potencial ele converte-se em uma força contrária, negativa, em doença, depressão, ansiedade. Muitas vezes a enfermidade é uma solução distorcida; não é a ideal, porém é, pelo menos, melhor que a loucura total ou o suicídio, os outros caminhos possíveis.

Nem abaixo,  nem acima; nem fora, nem dentro.

Tenho observado que nos últimos anos tem-se popularizado a meditação ou, pelo menos, a idéia  de meditar. Em geral, são adotados os sistemas orientais, porque foram os que mais desenvolveram um aspecto mais conhecido da meditação. Há outras maneiras de meditar, menos difundidas; sempre existiram. Porém elas são pouco conhecidas e, possivelmente, são menos valorizadas. Em parte, em razão dos livros de Carlos Castanheda, começaram a ser difundidas outras formas de meditação, que não correspondem exatamente com as orientais. Respeito muitíssimo as técnicas orientais, mas acredito que o ser humano americano tem outras necessidades, diferentes dos orientais e, inclusive, dos europeus. A América é outro continente e tem suas próprias necessidades.

Sem dúvida, a técnica oriental relaxa, reduz um pouco o nível de stress e isso é positivo. Porém, às vezes, pode levar quem a pratica a uma desconexão com o mundo em que vive, quando feita de uma maneira não conveniente para o praticante. Ao querer meditar, utilizando técnicas orientais, algumas pessoas adormecem, os braços ficam caídos, o olhar perdido… não podem olhar para fora e, a meu juízo, nem para dentro. Seu olhar fica também na zona intermediária (porque temos aqui outra instância intermediária, entre fora e dentro, como anteriormente entre acima e abaixo) e parece-me que os seres humanos de hoje em dia  caracterizam-se por viver em um pequeno espaço entre acima e abaixo, entre fora e dentro.

A meditação mal feita faz com que se instale este jeito de não estar nem em contato com o mundo externo, nem com o mundo interno, uma espécie de torpor. Com este tipo de trabalho, muitos justificam seu ócio… e não culpemos as técnicas orientais por isso, mas sim aqueles que as praticam como comentado. É um pretexto . Falta a vontade de dedicar-se de verdade e fazer o que realmente tem que ser feito. Nenhuma meditação pode me eximir de algo que tenho que fazer e não faço.

Outro aspecto a ser levado em consideração é que estamos muito carregados, emocionalmente  carregados, de energias que nem sempre encontram-se harmonizadas dentro de nós. Poderíamos estar “positivamente” carregados mas, normalmente, estamos “negativamente” carregados.  Para nós, pela nossa maneira de ser, é mais espontâneo “por para fora” a energia que carregamos em excesso, expressar, atuar, executar algum serviço ou tarefa, em vez de eliminá-la somente pela meditação. Creio que a maioria das pessoas não está capacitada para transformar diretamente em meditação sua energia emocional e sua energia vital não utilizada; não está preparada para essa transformação, direta, em energia mental ou em energias mais puras. Talvez alguns possam fazê-lo …  deixo em aberto a possibilidade, porém acredito que a maior parte das pessoas do nosso meio não está em condição.  Já os orientais (sobretudo os da Índia, os quais conheço) têm uma tônica vital muito diferente, um todo vital muito mais baixo. Seja pelo tipo de alimentação ou pelo fato de disporem de pouco espaço físico, eles desenvolvem-se de maneira diferente. Para eles, é natural sentar no chão e ficar ali … como velhos pedaços de pano de chão. Nós, salvo raras exceções, não somos feitos para isso, quando tentamos, ficamos mais parecendo panos engomados.

Além disso, eles são criados em um ambiente religioso, com uma tônica devocional que se sente no ar, se respira. Há então, uma aceitação interior, uma facilidade para deixar de lado os desejos e paixões, a qual nós não temos. Isso porque somos estimulados por um ambiente que nos diz, permanentemente: “você tem que ser o melhor, ser o mais importante, ganhar mais que os outros”, sempre tem que conseguir o melhor, ser o melhor. Esta mensagem que recebemos de forma direta, ou subliminar, é contraditória em relação àquela de abandonar-se nos braços do Senhor.

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