Textos de referência

Uma meditação para ocidentais – A Flor de Mil Pétalas – Parte 2

Autora: Maria Adela Palcos

Gostaria, agora, de referir-me ao centro coronário. Como funciona e como conectá-lo com o trabalho do corpo e enriquecer a pessoa? Por que colocamos o centro coronário hierarquicamente acima, em relação aos outros centros?
Há nisto toda uma ideologia que diz algo como “o que está acima é bom, o que está abaixo é mal; o que está acima é algo que devemos buscar e tentar alcançar, o que está abaixo é algo para temer, afastar”.

Eu diria que o centro coronário, que está localizado no extremo superior da cabeça, é, possivelmente, o mais simples e, ao mesmo tempo, o mais complexo dos 7 centros. Os orientais chamam-no “a flor de mil pétalas”. É simples porque só se tem acesso a ele quando são deixadas de lado todas as opiniões, que são por natureza complexas (a opinião é uma mistura estranha de idéia e desejo, aceita como símbolo de liberdade, ainda que venha a ser a prisão de quem a emite). O centro coronário responde, unicamente, a uma necessidade, e essa necessidade é simples: Ser. O complexo é que, para nós, pelo nosso tipo de formação, é difícil alcançar esta simplicidade.

A história do ser humano é a história do filho pródigo. Sai da casa paterna (sua essência), onde está a simplicidade, a verdade da vida e inicia um percurso no qual tudo vai se desenvolvendo, tornando-se complexo e onde deixa-se arrastar por desejos, idéias e ideologias, com todas as implicações que este afastar-se de seu verdadeiro eixo acarreta. Vai reconhecendo seus próprios pensamentos, sentimentos e ações, o efeito que produzem no meio que o rodeia e as respostas deste ambiente, reconhece desta forma os limites de sua personalidade, e pode retornar conscientemente à casa paterna. Quando retorna, já é outro ser. Acredito que esta peregrinação não deve ser “anatemizada”, creio que é parte do necessário desenvolvimento humano, pois do contrário a vida não teria sentido. Todas estas nossas sociedades complexas seriam um desvario, uma estupidez da Criação, e não creio que o sejam. São parte de uma forma de desenvolvimento humano. Talvez haja outras formas, mas esta é uma.

De qualquer maneira, o objetivo principal é voltar para a casa paterna e para isto é muito importante que me conecte com o centro coronário. Uma das condições imprescindíveis para chegar a ele é que me conecte, antes, com meu coração, com meu centro cardíaco. Pelo que tenho observado, na meditação – e ao falar de meditação, o faço em sentido amplo, pois pode haver meditação em movimento, quando me expresso com a música, com a voz ou o que seja, sempre que esteja por inteira neste movimento – deve, primeiro, ser produzida uma ascensão da energia desde os centros baixos e, a seguir, um descenso. Vinculo aquela com o fato de mobilizar o corpo. Não só uma ascensão, também uma atualização, pois só após estar atualizada a energia pode ascender, descender ou irradiar-se.


Geralmente nesta primeira passagem pelo centro cardíaco não há, ainda, uma verdadeira atualização deste centro. Deve chegar um momento em que o centro laríngeo, um autêntico nó neste caminho, relaxe. Aí estará a atitude de aceitação.


É preciso “baixar a cabeça”… porque o tipo de cultura em que vivemos deu tanta importância ao intelecto que o centro frontal (ou algo que tem sua sede aí) sente-se rei, por assim dizer o rei da criação.

Quando se cruza o centro laríngeo e produz-se a aceitação da realidade, alcança-se o centro frontal pela 1ª vez. Porém, a meu modo de ver, quando se chega aí, produz-se uma volta da energia para baixo, a mente reconhece que sem esta força não pode existir, que tem que vivificar-se aí. Só após este processo (no qual está incluído, de certo modo, o processo de simplificação) pode ter início uma real conexão com o centro coronário. Só, então, começa a atualização da energia deste centro.

A verdadeira meditação tem lugar quando o movimento ascendente completa-se com o descendente, marcado pela energia cósmica que penetra pelo centro coronário e, a partir daí, inunda tudo. Este é, para mim, o verdadeiro momento da meditação (depois pode desenvolver-se por diversos caminhos, mas é aí que começa realmente).

Se tivesse que descrevê-la, diria que é a simples presença. A sensação de ser e o ser estão unificados. Muito tem sido dito sobre o sujeito e o objeto que se integram e passam a ser um. Eu percebo assim: a sensação de ser e o ser propriamente dito convertem-se em uma única coisa, em uma totalidade. Um ser pode ter um tamanho imenso ou o de um ponto apenas, o que importa é que é. É e sou ; sou o que é, é o que sou.

O UMBIGO CÓSMICO

Vejo o ser humano com três umbigos.

O centro baixo é um tipo de umbigo que o une à terra; a seguir, vem o umbigo real, o do cordão umbilical, o centro vegetativo, que “é sua conexão com a humanidade” (através da mãe); e o terceiro é o umbigo cósmico, que também tem seu cordão umbilical, porém de outro tipo e nos dá a possibilidade de sermos um com Deus.

Eu os chamo de umbigos porque são as fontes nutrientes do ser humano, que se nutre da terra, de sua mãe, de toda a humanidade e das forças cósmicas que correspondem ao centro coronário.

Isto tem a ver com o filho pródigo que percorreu todo o caminho.

Quando ainda está na casa paterna é como se fora o filho cósmico, unido ao cordão umbilical dentro do ventre da mãe, porém ainda sem consciência, sem haver assumido uma individualidade. E, em grande parte, na caminhada que realizamos na vida real, saímos da casa paterna, deixamos de gozar a felicidade lá existente, porém continuamos, sem o saber, crianças cósmicas, não temos consciência desta conexão que está nos nutrindo. Então, em algum ponto do caminho, quando o filho pródigo decide retornar, é porque está começando a tomar consciência desta relação, de que vive por causa dessa nutrição, de que este eu com o qual me identifico, e que se chama Maria Adela, este eu reconhece que participa do eu cósmico. Este eu cósmico, aparentemente exterior a nós mesmos, que podemos porém incorporar. Esta seria a verdadeira maioridade: uma individualização sem separação, a passagem de filho cósmico para ser cósmico.

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