Textos de referência

Bases para o diálogo da Física Quântica com as Filosofias Espiritualistas e a Psicologia Transpessoal – Parte 2

Autora: Maristela A. André

Observação: Este texto está dividido em três partes! Confira as demais partes.
Maristela A André, S Paulo (revisto em maio/2001)

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

2. A TEORIA DA INCERTEZA

3. O OBSERVADOR E O OBJETO OBSERVADO (ver parte 2 do texto)

4. A CAUSAÇÃO DESCENDENTE (ver parte 2 do texto)

5. O MUNDO QUÂNTICO DA MENTE (ver parte 3 do texto)

3. O OBSERVADOR E O OBJETO OBSERVADO

O notável físico John Von Neuman, provou que o ponto crítico da transição onda – partícula não se encontra dentro do aparelho de medida e só pode estar em etapa posterior, que ocorre na decodificação visual do observador. Ao nível macroscópico pode-se fazer uma analogia com a percepção humana de uma imagem de televisão: ondas eletromagnéticas portadoras das imagens fluem livremente no ar, são sintonizadas por um televisor e o telespectador as percebe pelos sentidos da visão e audição, o cérebro registra a informação e a mente a decodifica, portanto a realidade final dependeu do observador. 

O evento citado como constatação do papel decisivo do observador no resultado de um experimento científico é referido como o da fenda dupla.

Um feixe de elétrons foi emitido por uma fonte luminosa e travessou simultaneamente dois orifícios indo sensibilizar uma tela fluorescente adiante. Constatou-se pelo espectro registrado na tela que, na ausência de um observador, os elétrons do feixe apresentaram padrão de interferência próprio das ondas luminosas que atravessaram os orifícios. 
Sempre que o observador esteve presente, porém, os elétrons se comportaram como partículas impressas na mesma tela; a atenção focada do observador provocou o colapso (termo usado pelos físicos) das ondas de probabilidades em partícula.

Sobre este experimento cabe citar ainda outras formulações importantes, corroboradas e complementadas por outros experimentos: um objeto quântico só pode ser conhecido em termos relativos aos instrumentos de medição e ao observador e, ainda mais, inexiste independência entre o observador e o objeto observado, ambos influenciam-se mutuamente, participam todos de um sistema entrelaçado, a realidade é sempre interdependente. David Bohn físico colaborador de Einstein, considerou ser melhor “virar a física de cabeça para baixo; ao invés de começar por partes discretas, até as mínimas, como átomos e partículas elementares, e mostrar como elas se relacionam e funcionam junta, deveríamos começar pelo todo”. Admite que as unidades discretas do universo estão ligadas intimamente a um nível profundo, formam um todo indivisível. Ondas de probabilidades formam uma rede cósmica de freqüência aonde existe uma ordem, uma estrutura dinâmica implícita, não manifesta no nosso modo normal de perceber a realidade. Muitos físicos quânticos passaram a admitir que a realidade se comporta segundo um modelo holográfico, cujas implicações veremos a seguir.

Num filme holográfico a distribuição da informação permeia todo o sistema, de tal forma que cada parte contém a informação de todo; se ampliarmos uma pequena parte de um corpo registrado num filme holográfico, ao invés de encontrarmos a foto daquela parte expandida encontramos a reprodução do corpo todo. Tal propriedade existe também no cérebro humano e este atua como um holograma interpretativo do Universo Holográfico. No enfoque do paradigma holográfico, além da focalização de todo, há a percepção intuitiva da rede dinâmica e interligada na qual eventos específicos e localizados repercutem no todo e vice-versa, sincronismos são inerentes ao funcionamento da realidade, vista pelo modelo holográfico.

Para os espiritualistas é uma agradável surpresa o que a física quântica está admitindo, e não surpreende, por exemplo, as filosofias espiritualistas e culturas como a indiana, para a qual Maya ou ilusão é a forma pela qual percebemos o mundo, essa percepção é produto da nossa mente, o conhecimento da realidade última transcende a nossas possibilidades. Também o filósofo grego Platão, no conhecido mito da caverna diz que o que o homem vê é uma sombra da verdadeira realidade, mera aparência, projetada pela mente humana nas paredes da caverna.

O mundo quântico nos aponta as falhas do paradigma científico a que estão condicionadas nossas crenças, valores, modos de pensar e aponta para uma nova visão que possa um dia nos aproximar de uma realidade mais fundamental. Enquanto a visão da física clássica nos afasta da percepção da integração corpo, mente e espírito, a quântica nos aponta para a necessidade de uma visão integradora da realidade da natureza e do homem, em suas múltiplas dimensões e até mesmo aponta para a hipótese da existência de uma Consciência Universal, como veremos a seguir.

4. A CAUSAÇÃO DESCENDENTE

Retomando um ponto importante já apresentado: com base no “experimento da fenda dupla”, os físicos quânticos constataram a existência do fenômeno da causação descendente até mesmo por fonte causal externa ao universo do fenômeno físico. A mente humana foi identificada como sendo a fonte causal externa que, focando o “experimento da fenda dupla” determinou o colapso da onda (realidade potencial) em partícula, realidade imanente (matéria).

Um experimento com dois observadores vindos ao mesmo tempo de direções distintas num cruzamento de ruas, com semáforo, levaram os físicos à formulação da hipótese de que a harmonização das visões dos dois acerca da ocorrência de apenas uma das possíveis leituras do semáforo se dava pela existência de uma fonte harmonizadora que transcende à mente de ambos.

Outra pesquisa no âmbito do corpo humano mostrou que a intercomunicação dentro do cérebro humano se processa a partir de sinapses neurológicas e segundo Harris Walber, o fenômeno não é de natureza química (como outros pesquisadores admitem), mas sim um processo elétrico possibilitado pela abertura da fenda sináptica é ocasionado pela formação de um “túnel quântico” que permite o salto quântico dos estímulos de um neurônio ao outro. Neste caso o fator causador externo do salto quântico não pode ser um observador humano, deve ser alguma outra a fonte externa ao sistema cérebro-mente.

Pesquisas feitas pelos físicos L. Bass (australiano) e Fred A. Wolf (norte americano) evidenciaram que, mesmo a nível macroscópico, ocorre a interferência de uma frente causal externa na ocorrência de fenômenos físico-mentais. Observaram que o funcionamento da inteligência no homem exige, além da ocorrência das sinapses neurológicas entre neurônios contíguos, que o acionamento de um neurônio seja acompanhado pelo acionamento instantâneo de outros que se encontram a distancias macroscópicas do mesmo. 

Ficou evidenciada a presença de um fator causador externo e “não local” capaz de atuar na intercomunicação neuronal a distâncias macroscópicas e capazes de harmonizar instantaneamente a atuação de múltiplas áreas do sistema cérebro-mente (sistema de natureza fisico-mental).

Diversas experiências, repetidas por pesquisadores em diferentes países, colocaram duas pessoas para meditar juntas sobre a tese de que “nós dois somos um”, a seguir cada uma foi isolada em câmaras elétro – magneticamente isoladas, para garantir o completo isolamento científico entre as pessoas. Cada uma foi conectada a sensores elétricos e seu movimento cerebral foi acompanhado; numa das participantes provocaram-se estímulos que foram registrados por um elétro encefalograma; os mesmos estímulos foram observados simultaneamente no elétroencefalograma da outra pessoa. Verificou-se um índice elevado coincidência, tanto de potencial, como de fase e de amplitude. O fenômeno foi também considerado de não localidade (na terminologia dos físicos ) . 

Testes de controle foram repetidos com pessoas que não realizaram a meditação prévia e a coincidência dos registros cerebrais foi desprezível, confirmando as conclusões do experimento.

Diante dessas experiências os físicos concluíram:

· Existem fenômenos “não locais” por fator externo ao experimento e externo à interferência consciente do observador humano. Esses fenômenos existem inclusive ao nível macroscópico.

· Existe de fato comunicação entre mentes, sem interveniência de qualquer veículo de comunicação reconhecido pela ciência e ela não obedece às leis da física, ocorre sem concurso de veículo energético ou material e é instantânea.
· A harmonização consciente das mentes das pessoas exerce efeito determinante na comunicação entre elas e na convergência de suas percepções sobre a realidade;
· Deve haver uma fonte superior harmonizadora das mentes e que as transcende.
· A partir das conclusões anteriores, experimentos acerca de fenômenos transpessoais passaram a receber do físico status potencialmente científicos, dentre eles os de telepatia, percepção à distância, experiências fora do corpo.

A admissão da existência de causação descendente afasta a visão da física quântica da visão da física clássica em múltiplos sentidos, até mesmo com implicações de natureza tecnológica. 

Os físicos clássicos, como já foi dito, vêem a matéria como a única geradora dos fenômenos ao âmbito da física; fatores exógenos, a exemplo do pensamento, vêm do cérebro, o gerador da mente do homem. A corrente filosófica funcionalista admite que a mente funciona como um software de um computador e o cérebro como o hardware; para estes a consciência do homem é inexistente ou irrelevante. Os materialistas funcionalistas preconizam a construção de maquinas pensantes capazes de desenvolver todas as aptidões humanas (a exemplo das “Turing Machines”) . 
Para os físicos quânticos a mente não é derivada do cérebro e o sistema cérebro-mente é visto como um sistema emaranhado, sua resolubilidade depende da interferência de um fator externo ao sistema, o que pode vir a tornar impossível sua reprodução em maquinas pensantes. Mais adiante trataremos das propriedades do sistema emaranhado cérebro-mente.

As reflexões sobre a causação descendente levaram a que físicos de opção filosófica monista idealista fossem mais além, admitindo que a mente de um observador seja apenas um instrumento de causação descendente dos fenômenos da realidade. A Consciência Individual é canal da Consciência Universal. Apenas tal hipótese, segundo os físicos monistas idealistas, permite uma interpretação consistente de descobertas científicas que permaneciam antes inexplicáveis.


A Consciência Universal é por eles considerada como ente auto referente, transcendente à realidade, fonte última da criação e do conhecimento, una, indivisível, integradora da realidade universal. Goswami nos diz no seu livro (pg 203 do item 1 da bibliogr.) que:

“A consciência no homem tem que ser um fenômeno não local “(transcendente) “para que seja possível a ocorrência de fenômenos da mente tais como criatividade, amor, liberdade de opção, percepção extra sensorial, experiência mística, visão expressiva e evolutiva do mundo, compreensão do seu lugar no universo.”

Ao afirmar tais idéias ele se apóia na filosofia modista idealista. Para Amit Goswami, a Consciência Universal é a base do Ser “Consciousness is the Ground of Being”, é a realidade ultima, a mente e o corpo são derivados (epifenomenos) da Consciência.

Pela filosofia Vedanta, mente, corpo são realidades ilusórias (maya). Tal visão é compatível com o que Platão apresentou no mito da caverna, o que vemos é uma sombra do real projetada nas paredes da caverna. A mente filtra o real através de sistemas de representação implícitos, baseados em arquétipos, o que provoca um reducionismo qualitativo da verdadeira realidade, a rigor inacessível para a mente humana.

A Consciência Cósmica atua através da Consciência Individual do homem e lhe confere a capacidade do livre arbítrio. O livre arbítrio vem acompanhado da responsabilidade em exercê-lo, em escolher, confere ao homem a qualidade de ser co criador da realidade. 
Segundo esta visão filosófica, a Consciência é a única fonte criadora, é criadora e harmonizadora do universo e de todos os níveis vibratórios que constituem o ser humano, a saber: o mental, o emocional ou vital e o físico; estes são autônomos entre si.

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